bem querer – capítulo II
Oscar ainda ouvia os acordes vibrantes de Mendelssohn. Via Marlene, esplendorosa no seu vestido de renda branca. Uma cauda imensa a seguia, como a um cometa luminoso. “− Mais servira, se não fora pera tão longo amor tão curta a vida!” − o verso de Camões brotou, espontâneo, em seus lábios.
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− Entrego-lhe meu tesouro mais precioso, Oscar.
− Eu a protegerei com minha vida, seu Manoel.
Oscar levantou o véu, beijou o rosto sorridente de Marlene, sussurrando-lhe: − Você está linda, meu tesouro. − Deu-lhe o braço direito e conduziu-a ao altar mor, onde padre João os esperava, com ar solene.
− Oscar, você recebe Marlene, aqui presente, como sua legítima esposa, de acordo com o rito de nossa Santa Madre Igreja?
− Sim.
Naquele sim, Oscar selava seu futuro. Abandonava seus planos de se tornar engenheiro e gozar do prestígio que a profissão conferia.
− Marlene, você recebe Oscar, aqui presente, como seu legítimo esposo, de acordo com o rito de nossa Santa Madre Igreja?
− Sim.
O sim de Marlene vinha de seu coração. Desde a noite em que viu Oscar na quermesse, tentando ser notado por ela, seguindo-a no footing, cortando caminho entre as barraquinhas para se colocar bem à sua frente, respondendo: “O que tenho a lhe dizer pode demorar uma vida inteira”, teve certeza de haver encontrado o amor de sua vida.
− Ego conjugo vos in matrimonium, in nomine Patris, et Filii, et Spiritus Sancti. Amen.
A melodia de Gounod inundou a matriz e a alma de Marlene. Ela se sentia cheia de graça como Maria. O filho, que até aquele instante era uma prova de seu pecado, tornava-se agora um dom de Deus para alegrar sua vida e uni-la a Oscar para sempre. De braços com seu marido, atravessou a igreja como quem anda sobre as nuvens e caiu nos braços de sua mãe. As lágrimas agora eram de pura felicidade.
***
O casamento foi bem apressado, o noivado durou menos de dois meses. A desculpa foi a doença da avó de Oscar, ela queria ver seu primeiro neto casado e tinham medo que morresse a qualquer hora. Dona Zezé, quando soube da gravidez da filha, ficou uma semana de cama, só de imaginar o falatório das suas amigas do Apostolado da Oração. Seu senso prático venceu, deixou o leito e preparou, em tempo record, uma festa que seria lembrada por muitos anos. Seu Manoel foi surpreendentemente compreensivo: – São os arroubos da juventude. Ofereceu uma pequena sociedade ao genro, mas Oscar não aceitou.
– É sua oportunidade de continuar os estudos, meu bem – insistiu Marlene.
– Não quero viver na sombra do seu pai, Marlene.
Ele conseguiu trabalho na CEMIG, criada naquele ano de 1952 pelo Governador Juscelino Kubitschek.
Depois de uma insistência enorme e para evitar uma primeira briga com a esposa, Oscar aceitou passar dez dias no Rio de Janeiro, em viagem de núpcias. Presente dos padrinhos da noiva.
Marlene levou o marido para conhecer Copacabana. Ao passarem em frente ao Copacabana Palace, Marlene disse ao marido:
– Ainda vamos nos hospedar aqui.
– Prefiro a pensão da dona Duchinha, lá não tem ar condicionado e você dorme nuazinha.
− Você não presta, Oscar.
Marlene ensinou o marido a amar a “cidade maravilhosa” com sua combinação de praia e montanha, natureza e charme urbano, com seu clima sensual e a alegria de seu povo descontraído e caloroso.
Envolvidos pela magia da cidade, os dois viveram dias de intensa intimidade. O prazer que um proporcionava ao outro tornou bem concreta a experiência de “dois numa só carne”. O amor já não era uma promessa romântica, mas uma realidade.
Na última noite que passaram no Rio, Marlene teve um sangramento. No outro dia, procuraram um médico, que estranhou a preocupação do casal.
− A senhora menstruou, somente isso.
− Mas ela está no terceiro mês de gravidez.
− A senhora fez o Galli Mainini, o teste do sapo?
− Não, doutor, mas eu tinha todos os sintomas…
− Vamos fazer o seguinte, procure um laboratório e faça o exame, depois a senhora volta aqui com os resultados.
− Nós somos de Belo Horizonte e estamos com viagem marcada para hoje à noite.
− Podem deixar para fazer o exame em sua terra. Seu estado está bom, minha senhora. Não se preocupe.
Passaram o resto do dia na pensão. Marlene quis ligar para sua mãe, mas Oscar a convenceu a esperar.
− Sua mãe vai ficar alarmada. Amanhã estaremos em casa.
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Galli Mainini, o teste do sapo. Oscar ficou pensando na reviravolta que um fato, uma decisão acarretam na vida das pessoas. Como teria sido sua história se Marlene tivesse feito o teste? Se ele tivesse feito o curso de engenharia. Talvez não teria se tornado um líder sindical e permanecido alienado, como era aos vinte anos.
(Continua no próximo capítulo.)
5 comentários
Márcia em 16/02/2014 08:03
É muito bom acompanhar a vida de Oscar e Marlene. Bom, já estive no casamento e na surpresa da lua de mel. O que vamos saber na próxima semana?
Nenem DUPONT em 16/02/2014 12:03
JA ESTAVA ANSIOSA AGUARDANDO O 2° CAPITULO. MAIS SUSPENSE AINDA PELA FRENTE. OTIMO.
Maria aclara em 18/02/2014 16:12
Estou adorando Ildeu ,já me sinto completamente envolvida
Ildeu Geraldo de Araújo em 28/02/2014 17:03
Que maravilha! É tudo que o autor gastaria de ouvir
Forever 21 Dresses em 20/02/2014 23:24
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