(Junia Castro B. Rezende)

Bolonha choca, no início quase incomoda. Como prédios históricos podem ser tão descuidados? Tantas pixações, punks com cães enormes e sujos, pessoas bebendo nas praças a qualquer hora do dia. Uma cidade de vândalos, de desocupados?

Bolonha é tímida, se mostra aos poucos. Para conhecê-la é preciso de um pouco de tempo.

Bolonha é a cidade das torres, dos pórticos acolhentes, que protegem contra a chuva e contra o sol. A cidade dos ricos e dos pobres. A Igreja é sempre aberta aos  dois grupos, igreja feita metade em mármore e metade em tijolinhos, evidenciando a riqueza, a ostentação e a crise do catolicismo e de seu país-berço.

Bolonha é a cidade dos jovens de toda a itália, dos jovens de todo o mundo. Em Bolonha ninguém é de Bolonha. A cidade da diversidade e do respeito pela diversidade. Onde pode-se ser patricinha, descolado, tranquilo, hippye ou “punk a bestia” (a besta, no caso, é o cachorro) . A única regra é ser fiel ao seu próprio estilo.

Bolonha é a cidade que pertence à Universidade. Onde estão grandes nomes do grupo de notáveis da Itália e grandes nomes do futuro grupo de notáveis da Itália. Onde a filosofia é amiga da política e das artes e tenta se aproximar do direito, mas nem sempre daquilo que parece direito. É a cidade onde as aulas travam batalhas diárias com exibições de arte, manifestações, debates políticos e espetáculos. Onde a pixação não é só vandalismo, mas primordialmente, é forma de expressão.

Bolonha, “la rossa”, a tradicional esquerda italiana. A cidade de vanguarda, do primeiro governo comunista eleito, do movimento anti-fascismo durante a guerra. Cidade onde todos odeiam o papi Silvio.

Bolonha, “la grassa”, dos presuntos, queijos parmesões, tagliatelli al ragù e crostatas, dos cafés infindáveis. Cidade das vitrines que fazem dar água na boca. Cidade onde cozinhar é programa e comer é um evento, é um grande prazer.

Bolonha é a cidade que não dorme nunca, mas que não se esquece que está na Itália e não quer ser Nova Iorque. Não é frenética! Em Bolonha reina a calma e nada mais justificável que o atraso causado por um café. É a cidade da noite, da noite de todos. Da noite do jazz, do raggae, das boates, dos violões nas praças e dos bêbados (para os quais até o dia é noite). É a cidade dos dias de ócio no Giardinni Margherita, dos cães que correm desesperados, dos que lêem deitados na grama, dos que namoram nos bancos e dos que escrevem um texto estranho sobre a cidade que estão vivendo por um tempo.

Para conhecê-la é preciso de um pouco de tempo, para amá-la basta não sair dela. Bolonha é a moça bela conhecida em tempos de guerra. Ela sabe que será amada. Sabe que um dia será deixada, mas tem a certeza de que jamais será esquecida.